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Viagens-pelo-Mundo

3/09/2008

TEATRO VIRIATO

TEATRO VIRIATO


TEATRO VIRIATO

PAULO RIBEIRO

DÚVIDA

THE PILLOW MAN

RICARDO PAIS, ENCENADOR DE OTELO


SOMBRAS E CLARIDADES
NO TEATRO VIRIATO

O Teatro Viriato é um teatro que nós amamos muito, pois estamos ligados a ele desde a nossa infância e adolescência, portanto há dezenas de anos. Com efeito, para nós o Teatro Viriato não é apenas o edifício moderno que os frequentadores do actual espaço conhecem. É uma sala de espectáculos muito antiga, onde tinham lugar espectáculos de teatro, mas que a partir de certa altura passou a ser também usada para sessões de cinema. Foi inclusivamente nas antigas instalações do Teatro Viriato que teve lugar a primeira projecção cinematográfica em Viseu. Isto deveu-se a uma iniciativa do Senhor Luciano, um comerciante muito conhecido na cidade que era proprietário de uma cervejaria que se situava mesmo em frente do teatro e que tinha o nome sugestivo de Cervejaria Cinema.
Aliás no Teatro Viriato as sessões de cinema eram mais frequentes do que os espectáculos de teatro, pois as grandes companhias teatrais da altura utilizavam predominantemente as instalações do Teatro Avenida, situado muito perto do Teatro Viriato, na Avenida Emídio Navarro, mais ou menos no sítio em que hoje está o prédio do restaurante Casablanca. O Teatro Avenida era um teatro muito mais amplo do que o Teatro Viriato, era mesmo uma dos maiores teatros do país. Tinha portanto muito melhores condições para rentabilizar financeiramente os espectáculos que nele tinham lugar. Acresce que o Teatro Avenida tinha um palco enorme e uns espaçosos camarins que nós conhecíamos bem, pois nele foi representada uma peça escolar em que também actuámos.
No que concerne ao novo Teatro Viriato, foi inaugurado há muito poucos anos e consequentemente é ainda uma criança com pouco passado e com pouca história. O teatro tem um grupo de mecenas, os chamados amigos do Teatro Viriato, que pagam uma quota anual. Este grupo de mecenas não tem qualquer poder deliberativo ou consultivo e os seus membros, que são pessoas em nome individual ou pessoas colectivas, limitam-se a ajudar a instituição com o seu contributo. O teatro tem também uma direcção. A direcção do teatro tem autonomia financeira e administrativa, o que lhe permite fazer o que lhe dá na real gana, dentro do orçamento que o Ministério da Cultura e a Câmara Municipal de Viseu lhe proporcionam. E nesta conformidade, a direcção do teatro pode estabelecer livremente os ordenados de quem lá trabalha e pode fechar as portas do teatro durante todo o mês de Agosto e parte do mês de Setembro, precisamente na altura em que há muitos emigrantes e muitos estrangeiros em Viseu, em que há muito calor, em que há muita gente a sair à rua e em que há mais dinheiro no bolso das pessoas. Mas isto não são contas do nosso rosário, o director do teatro manda e nós limitamo-nos a fazer a nossa crítica, embora saibamos que a direcção do Teatro Viriato não gosta de críticas negativas, só aprecia opiniões favoráveis. No entanto, a nossa crítica tem todo o fundamento, pois nos Estados Unidos da América, por exemplo, as grandes estreias teatrais, as chamadas open nights, têm lugar normalmente no Verão. E a maior parte das estreias cinematográficas aliás também. Mas os Estados Unidos são um país moderno e desenvolvido, enquanto Portugal é um país pindérico e atrasado. E o Teatro Viriato infelizmente está situado no nosso país.
Apesar da sua curta idade, o TeatroViriato já teve dois directores. Um deles, o Paulo Ribeiro, é ainda hoje o director do teatro. Mas houve uma altura em que o Paulo Ribeiro sonhou com voos mais altos e saiu da direcção do Teatro Viriato para assumir o cargo de director do Ballet Gulbenkian. Mas esse foi um sonho efémero, pois o Ballet Gulbenkian foi extinto passado muito pouco tempo. Depois da sua curta experiência no Ballet Gulbenkian, o Paulo Ribeiro continuou a sonhar com voos de alto nível e tomou posse como director do Teatro Aveirense. Mas esse também foi um sonho de curta duração, pois o Paulo Ribeiro foi rapidamente substituído pelo director -adjunto do Teatro da Trindade, de Lisboa, o encenador aveirense Rui Sérgio, que é pelos vistos um gestor cultural com melhor reputação na cidade de Aveiro.
No entanto, foi bom que a autarquia de Aveiro tivesse rejeitado o Paulo Ribeiro, pois o homem que o substituiu no Teatro Viriato, o Miguel Honrado, estava a ter um desempenho de tal maneira medíocre que iria levar com toda a certeza, num período muito breve, o Teatro Viriato para o abismo. Com efeito, desde que assumiu a direcção do teatro, o Miguel Honrado começou logo a pensar em despedir alguns trabalhadores do teatro, a fim de nele colocar preferentemente as suas amigas e os seus amigos. E nessa conformidade começou a mover processos disciplinares a torto e a direito e a despedir sem qualquer fundamento válido alguns trabalhadores muito competentes e muito devotados ao Teatro Viriato. E assim o Miguel Honrado retomou uma tradição de despedimentos que já não tinha lugar em Viseu desde os tempos em que o Cine Clube local pôs na rua inúmeros sócios e directores, pois segundo um dos sinistros mentores dessa operação de limpeza interessava manter uma equipa coesa, isto é, uma equipa em que todos fossem adeptos ou militantes da esquerda violenta e antidemocrática e em que todos fossem contra o cinema americano e contra os Estados Unidos da América. Estranhamente, esse dirigente cine clubista de má memória é hoje membro de um partido democrático. Pelos vistos, o homem amadureceu e ganhou juízo. Quanto ao Miguel Honrado, felizmente que já desapareceu da circulação há muito tempo e que o director do Teatro Viriato é novamente o Paulo Ribeiro. Com efeito, o Paulo Ribeiro é uma pessoa sensata e equilibrada e também é uma pessoa bastante preocupada com o desenvolvimento cultural da cidade de Viseu. E nisto é muito diferente do Miguel Honrado, que desprezava Viseu e que não gostava de viver na cidade de Viriato.
Com o Paulo Ribeiro como director do Teatro Viriato, a cidade de Viseu teve oportunidade de ver, num curto espaço de tempo, dois inolvidáveis espectáculos de teatro: The Pillow Man (O Homem Almofada) e a Dúvida. Trata-se efectivamente de duas peças de inegável valor, com excelentes encenações e com brilhantes desempenhos, especialmente a Dúvida, que tem nada mais, nada menos do que o Diogo Infante e a Eunice Muñoz como actores principais. A Dúvida é uma peça de cunho autobiográfico, de John Patrick Stanley, um escritor norte-americano que frequentou como estudante um colégio católico no distrito de Bronx de Nova Iorque, semelhante ao colégio que vemos na peça. A Dúvida mostra o ambiente claustrofóbico de um colégio dirigido por uma freira idosa, um ambiente muito semelhante ao que se registava nos estabelecimentos escolares que nós frequentámos em Portugal, em que se ministrava o ensino à bofetada e à reguada, com uma violência tal que é difícil às pessoas mais novas acreditarem que no nosso país se cometiam tais barbaridades.
À orientação repressiva da freira-directora opunha-se o Padre Flynt, um padre muito humano e tolerante. Mas o padre é acusado pela freira de práticas homossexuais e pedófilas com um rapaz negro de doze anos e em virtude disso é praticamente obrigado a pedir a transferência e a sair do colégio.
. O padre é brilhantemente interpretado pelo Diogo Infante e convenhamos que o papel de um padre acusado de condutas desviantes se adequa maravilhosamente às características psicossomáticas do actor. Quanto à freira, è mais um óptimo desempenho da Eunice Munhoz, embora o melhor desempenho da Eunice tenha sido no papel de mãe coragem, na homónima peça de Bertold Brecht, genialmente encenada pelo João Lourenço.
Voltando à Dúvida, a peça baseia-se em factos que também aconteceram em muitos colégios católicos da zona de Boston, com padres seduzindo meninos americanos imberbes. Esses padres acabaram por ser expulsos do seio da Igreja e o próprio bispo de Boston ficou com a sua imagem muito afectada , pois teve conhecimento dos factos e não os denunciou.
A peça Dúvida foi escrita em 2004 e obteve o Pulitzer Award de 2005 e quatro Tony Avard, incluindo o da melhor peça. Com a apresentação de peças como a Dúvida, The Pilow Man e também o Hamlet, numa fabulosa encenação do Ricardo Pais, podemos dizer que o Teatro Viriato está ao nível dos melhores teatros de Portugal. E com peças como estas podemos dizer também que Viseu já faz parte, com inteira justiça, do mapa cultural de Portugal.


TRABALHADORES DESPEDIDOS INJUSTAMENTE
PELO DIRECTOR DO TEATRO VIRIATO

Há já algum tempo que tivemos uma conversa com uma pessoa que conhecemos devido às múltiplas visitas que fazemos ao Teatro Viriato, na nossa dupla condição de amigo do teatro e de espectador assíduo.
Essa conversa aconteceu na praça principal da cidade de Viseu, a Praça da República, e por ela ficámos a saber que vários trabalhadores, incluindo a pessoa com quem conversámos, foram gradualmente despedidos por iniciativa da Direcção do Teatro Viriato, alegando razões totalmente infundadas e injustas.
Além do mais, essa trabalhadora foi “despedida”, com grande mágoa nossa, com a falsa justificação da extinção do respectivo posto de trabalho, posto esse que a direcção do Teatro Viriato ressuscitou milagrosamente passado pouco tempo. Aliás, tivemos recentemente oportunidade de concluir isso mesmo após a recepção de correspondência do Teatro Viriato, já assinada por outra trabalhadora.
É que para nós o rosto do Teatro Viriato continua a ser aquela trabalhadora e outros trabalhadores e trabalhadoras com quem contactávamos regularmente sempre que nos deslocávamos às instalações do nosso teatro municipal. O que queremos dizer com isto é que o director do teatro, o Miguel Honrado, podia perfeitamente demitir-se e ir-se embora que nem daríamos pela sua falta, pois é uma pessoa que não conhecemos e de cuja figura aliás só fazemos uma pálida ideia pelas fotografias que de vez em quando, sempre que dá conferências de imprensa, ele faz aparecer nos jornais regionais.
Com o anterior director, o Paulo Ribeiro, a situação era completamente diferente, pois o Paulo Ribeiro tinha outra visibilidade, era muito mais interveniente e até organizava e coordenava debates entre os espectadores e os artistas no fim da maior parte dos espectáculos. Até acontecia que o Paulo Ribeiro frequentava assiduamente o átrio do teatro, aproveitando o facto para conversar informalmente com os espectadores e com os amigos do teatro.
Contrariamente ao que acontece com o Miguel Honrado, o Paulo Ribeiro era um director que se preocupava com a ligação com os habitantes da região de Viseu e que procurava criar laços muito fortes com a comunidade em que o teatro está inserido. E assim, tal como o descrevemos, podemos dizer que o Paulo Ribeiro era um rosto, e um rosto muito forte, do Teatro Viriato. Digamos que, comparado com o Paulo Ribeiro, o Miguel Honrado é um homem invisível, um autêntico fantasma do teatro.
Ora o Teatro Viriato para nós não é a instituição, a ideia de obra ou de empresa, a entidade abstracta portanto. O Teatro Viriato é para nós e julgamos que também é para toda a gente o rosto das pessoas que nele trabalham. E assim podemos dizer que sem o Paulo Ribeiro e sem os trabalhadores agora despedidos o Teatro Viriato se vai esvaziando gradualmente.
Além do mais, no que se refere à sua actuação como director do teatro, o Paulo Ribeiro tinha outra vantagem sobre o Miguel Honrado: nunca despediu injustamente nenhum trabalhador. É que o Paulo Ribeiro, como director competente que era, entendia com certeza que a estabilidade é um valor essencial.
E assim como um governo não consegue governar bem sem um mínimo de estabilidade, também uma instituição, como é o caso do Teatro Viriato, não consegue sobreviver sem um mínimo de estabilidade. A estabilidade é, com efeito, um valor importante. Só com estabilidade é que se pode alcançar alguma coisa de consistente e de sólido, no que toca à vida das instituições.
Às vezes é inevitável que haja uma mudança e esse foi o caso da saída do Paulo Ribeiro, que se transferiu para o Ballet Gulbenkian e que portanto mudou para melhor. Esse não é infelizmente o caso das mudanças agora operadas pelo Miguel Honrado, pois despedir pessoas competentes para lá meter pessoas amigas não é mudar para melhor.
É que as pessoas despedidas eram pessoas que trabalhavam no teatro quase desde a sua inauguração. Sabemos que algumas dessas pessoas em tempos pensaram em concorrer a outras instituições e só não o fizeram porque julgavam que o emprego no Teatro Viriato era um emprego minimamente estável.
Foi portanto contra todas as expectativas que essas pessoas se viram de repente confrontadas com despedimentos injustos e com situações dramáticas de desemprego. Como amigo do teatro e como homem de esquerda que somos, obviamente que estamos ao lado dos trabalhadores injustamente despedidos. Como já afirmámos em diversas ocasiões, o Teatro Viriato é uma instituição que nós amamos muito. O problema é que o Teatro Viriato que nós amamos muito também é constituído pelo Paulo Ribeiro e por essas pessoas que foram injustamente despedidas e por isso agora o amamos menos.


GRAVES PROBLEMAS
NO MUSEU GRÃO VASCO
E NO TEATRO VIRIATO

Em artigos que publicámos nas páginas deste jornal fizemos referência aos graves problemas que afectam estas duas prestigiosas instituições culturais viseenses. Com efeito, a acção destas duas instituições foi até há bem pouco tempo enaltecida por toda a gente, desde os críticos mais exigentes até aos mais humildes dos seus utilizadores.
E realmente, com as competentes direcções da Dra. Dalila Rodrigues e do Paulo Ribeiro, estas duas instituições tiveram um período de grande dinamismo e até de um certo esplendor que as projectou a nível regional e a nível nacional. No caso do Museu Grão Vasco, essa projecção até ultrapassou as fronteiras do nosso país, com o tremendo êxito que constituiu a exposição da pintura de Vasco Fernandes em Salamanca, no ano em que esta cidade foi capital da cultura.
Portanto, era com toda a justiça que estas duas instituições eram constantemente elogiadas por toda a gente, pois estes dois importantes organismos culturais, graças às iniciativas da Dra. Dalila Rodrigues e do Paulo Ribeiro vieram pôr Viseu, uma cidade normalmente culturalmente muito atrasada, no mapa cultural do nosso país.
Infelizmente, este «boom» cultural parece ter chegado ao fim e hoje todos nós assistimos ao espectáculo deprimente de um rol de trapalhadas, de violações da lei, de demissões e de rescisões de contratos sob pressão, protagonizados pelos seus actuais directores, a Dra. Ana Paula Abrantes e o Miguel Honrado.
No que concerne às trapalhadas e às violações da lei, que parecem ser a especialidade da Dra. Ana Paula Abrantes, elas pululam no Museu Grão Vasco, desde um caso grave de censura a uma actividade programada para a “Noite dos Museus”, com o cancelamento da exibição do espectáculo Desassossego, a que fizemos referência num artigo anterior, até ao desmembramento do serviço educativo do museu, desenvolvido, com enorme êxito, pelas direcções anteriores.
Mas a acção nefasta da Dra. Ana Paula Abrantes não se fica por aqui. Além de não ter na manga qualquer ideia para a dinamização cultural do museu, lança para o ar uns projectos totalmente surrealistas em termos de gestão museológica, como a criação de um centro de estudos medievais e o lançamento de um curso de paleografia.
Mas a Dr. Ana Paula Abrantes não se limita a coleccionar disparates na sua acção de índole pseudo-cultural à frente do museu. Isola e penaliza os funcionários que faziam parte da antiga equipa que trabalhava com a anterior direcção, criando uma divisão entre aqueles que estão do seu lado, os bons, e aqueles que estão contra ela, os maus.
E pressiona os trabalhadores que não lhe agradam, com a finalidade de forçar a sua demissão, como aconteceu no caso da funcionária Sofia Martins, vítima de injúrias e de desrespeito por parte da directora.
No que à imprensa diz respeito, retira o jornal Voz das Beiras do interior do espaço do museu por causa de um artigo de opinião sobre o seu desempenho e com certeza também vai fazer o mesmo ao jornal Via Rápida, por causa das nossas desassombradas opiniões.
Perante estes tristes espectáculos proporcionados pela Dra. Ana Paula Abrantes, o director do Instituto Português dos Museus, o Dr. Manuel Oleiro, parece não querer reconhecer a asneira que fez em nomear tal pessoa para a direcção do nosso museu e por isso recusa-se a intervir e a mandar a Dra. Ana Paula Abrantes de volta para a sua terra, de onde nunca devia ter saído.
Mas felizmente que se constituiu um movimento cívico por um museu de todos e para todos, o AMARTE, que a bem da dignificação da cultura solicitou ao director do Instituto Português dos Museus e ao Ministério da Cultura o imediato afastamento da directora do Museu Grão Vasco. Este movimento cívico, a que nós aderimos através da Internet, tem já mais de 750 pessoas, entre as quais o ilustre viseense e ex-ministro da cultura, Manuel Maria Carrilho.
As pessoas que fazem parte do movimento cívico AMARTE foram todas ameaçadas pela Dra. Ana Paula Abrantes de lhes mover queixas-crime e de as meter em tribunal. Qualquer dia, pelo andar da carruagem, a Dra. Ana Paula Abrantes terá de mover queixas-crime e terá de meter em tribunal a cidade de Viseu inteira.
Em relação ao Teatro Viriato, o ambiente também não é melhor, devido aos despedimentos e às demissões sob pressão com que o actual director, o Miguel Honrado, tem posto no olho da rua os trabalhadores de que não gosta e que por sinal nós até sabemos que são dos mais devotados ao teatro e dos mais competentes no desempenho das suas tarefas.
Não nos admiraria nada que qualquer dia também surgisse um movimento cívico a exigir a demissão do Miguel Honrado, dado o ambiente irrespirável e de cortar à faca que se respira dentro e fora do nosso teatro municipal. Infelizmente, as duas principais instituições culturais da nossa cidade têm aparecido ultimamente nas páginas da imprensa pelas piores razões. Esperemos que seja por pouco tempo e que Viseu possa em breve orgulhar-se outra vez do seu museu e do seu teatro.

O REGRESSO
DO PAULO RIBEIRO
AO TEATRO VIRIATO

Foi com grande alegria que tomámos conhecimento, através dos meios de comunicação social, do regresso do Paulo Ribeiro ao Teatro Viriato. É que o Teatro Viriato não podia continuar com a incompetente e desastrosa direcção do Miguel Honrado. Na realidade, com o Miguel Honrado, o Teatro Viriato corria o risco de se afundar.
Aliás, já estava há muito tempo a afundar-se. É certo que não de uma maneira repentina, mas lenta, lenta, lentamente, o Teatro Viriato ia indo de desastre em desastre até ao tsunami final. E tudo isto com um director que nem sequer gosta da cidade de Viseu. Com efeito, é verdade que o Miguel Honrado sempre afirmou que detestava a cidade de Viseu e que foi, portanto, bastante contrariado que veio residir para a capital da Beira Alta.
Mas esta situação acontece com milhões de trabalhadores que têm que emigrar para muito longe e que têm que residir em cidades muito piores do que Viseu, para encontrarem trabalho. Mas o Miguel Honrado, pelos vistos, é um fidalgo e um trabalhador de elite e não se conforma, portanto, em ter o seu posto de trabalho numa cidade tão insignificante como é, para ele, Viseu.
E daí ter dirigido o Teatro Viriato com pouco carinho e com pouco desvelo e daí ter feito inúmeras asneiras. E assim, começou por ordenar despedimentos selvagens, uma situação que já não acontecia nos organismos culturais de Viseu desde as purgas e os saneamentos ocorridos no Cine Clube de Viseu há uns anos atrás.
E foi assim que de um momento para o outro, subitamente, muitos trabalhadores competentes e devotados ao Teatro Viriato foram para o olho da rua e se encontraram, de repente, em situações dramáticas de desemprego. E foi assim que muitos trabalhadores que eram o rosto do Teatro Viriato foram saindo gradualmente da cena e das luzes da ribalta, substituídos por outros que eram mais do agrado do Senhor Director.
E foi assim que o Teatro Viriato, sem os rostos amigáveis e familiares desses trabalhadores, foi ficando cada vez mais pobre e mais vazio. Claro que um homem que não gosta de Viseu tinha que criar todos os problemas que criou com os trabalhadores da cidade de Viriato. Mas é claro também que um homem que não gosta de Viseu tinha que ter naturais dificuldades no relacionamento com a comunidade em que o teatro está inserido.
E ainda por cima o Miguel Honrado, na sua permanência à frente do Teatro Viriato, tem sido quase sempre um homem invisível, um homem abstracto, um autêntico fantasma do teatro. Num artigo que publicámos neste jornal sobre os injustos despedimentos dos trabalhadores do teatro por ele ordenados, abordámos também esta questão da não visibilidade do director, dizendo nomeadamente que “o Miguel Honrado podia perfeitamente demitir-se e ir-se embora que nem daríamos pela sua falta, pois é uma pessoa que não conhecemos e de cuja figura aliás só fazemos uma pálida ideia pelas fotografias que de vez em quando, sempre que dá uma conferência de imprensa, ele faz aparecer nos jornais regionais.”
A esta nossa crítica, o Miguel Honrado respondeu-nos, nas páginas deste mesmo jornal, dizendo que era conhecido nas esplanadas, nos supermercados e nas escolas da cidade e que até aparecia regularmente no átrio do Teatro Viriato, presumimos que no início e no intervalo dos espectáculos. Mas a verdade é que o Miguel Honrado não tinha nem tem a presença nem a visibilidade nem a categoria do Paulo Ribeiro e nunca se interessou verdadeiramente em inserir o teatro no seio da comunidade.
Até se deu o facto de com o Miguel Honrado acabarem os debates entre espectadores e artistas que o Paulo Ribeiro organizava e coordenava no fim da maior parte dos espectáculos. Com efeito, contrariamente ao Miguel Honrado, o Paulo Ribeiro era um director que procurava criar laços muito fortes com os espectadores e com a comunidade.
Mas o Miguel Honrado, além destes defeitos todos, também desconhecia a própria orgânica do teatro que ainda dirige. Quando nós, no texto que já citámos neste artigo, invocámos a nossa condição de amigo do Teatro Viriato, estávamos a referir-nos obviamente à nossa condição de mecenas do teatro, com uma contribuição monetária anual.
Mas o Miguel Honrado, na sua resposta, aproveitou a oportunidade para nos repreender do alto da sua cátedra, dizendo que nós não éramos amigo do teatro, pois tínhamos faltado a alguns espectáculos. E até insinuou com muita piada que na altura desses espectáculos nós devíamos andar a viajar pelas Ilhas Fidji ou pela Patagónia. O homem tem as suas limitações, mas tem algum sentido de humor.
Tudo isto mostra que o Miguel Honrado nem sequer lê os programas e os anuários do teatro, onde o grupo de amigos do teatro está devidamente assinalado. Com um director como este, não admira que o Teatro Viriato tenha perdido público e se acentue cada vez mais a tendência para a desertificação do teatro.
Mas felizmente que esta situação, que poderia ser fatal para o Teatro Viriato, não vai continuar por muito tempo, pois já se anuncia o regresso do Paulo Ribeiro, fundador e antigo director do teatro, uma pessoa competente, inteligente e carismática, em suma a pessoa certa no lugar certo. Com o regresso do Paulo Ribeiro, estão de parabéns o Teatro Viriato, a cidade de Viseu e a cultura portuguesa em geral.


O HAMLET DO RICARDO PAIS


Algo vai podre no reino da Dinamarca, mas não na representação do Hamlet no Teatro Viriato, pois a peça de Shakespeare, encenada pelo Ricardo Pais, que nós tivemos o privilégio de ver no dia da estreia, é um espectáculo de um nível excepcional, que honrou o nosso teatro municipal e que tornou Viseu, durante alguns dias, a capital teatral de Portugal.
Teatro de grandes frases, de grandes conceitos, de grandes diálogos e de prolongados e inumeráveis monólogos, a peça Hamlet é um dos cumes da obra teatral de Shakespeare e do teatro em geral e nessa medida a sua representação só está ao alcance de grandes companhias teatrais, com actores fora de série e com encenadores geniais.
É que no caso do Hamlet não basta um grande actor para o papel principal, pois os papéis secundários são igualmente importantes. É portanto uma peça que não está ao alcance de amadores nem também de profissionais apenas medianos, pois exige na sua encenação uma competência enorme de todos os intervenientes. Aliás nós pensávamos que tal peça também não estaria sequer ao alcance do Ricardo Pais, mas felizmente estávamos enganados.
Já vimos algumas adaptações cinematográficas e teatrais do Hamlet, mas só uma dessas adaptações nos satisfez plenamente. Trata-se do Hamlet» de Laurence Olivier, fabulosa adaptação da peça de Shakespeare, que nós consideramos o melhor Hamlet de todos os tempos. Já vimos esse filme mais de vinte vezes e é uma alegria para nós vermos o percurso desse personagem tão volúvel e tão hesitante e por isso mesmo tão humano e tão próximo de nós.
Ainda nos lembramos de ter visto esse Hamlet de Olivier no antigo Teatro Viriato, há cerca de cinquenta anos, quando éramos ainda um moço púbere, e ainda nos recordamos perfeitamente, como se tivesse sido hoje, do diálogo do Hamlet com o espectro do pai, das cenas da loucura e da morte de Ofélia, da representação teatral denunciadora do crime do rei Claudius e de toda a longa sequência final.
Toda essa vivência distante no tempo perpassou, qual madalena de Proust, na nossa memória, enquanto assistíamos ao Hamlet do Ricardo Pais no Viriato actual. E por isso mesmo, na fase inicial do espectáculo, achámos que havia luzes e cores a mais no palco, pois o nosso Hamlet, o de Sir Laurence, é a preto e branco e nessa conformidade a peça também devia ser.
E é claro que no princípio também não ficámos inteiramente satisfeitos com a interpretação do João Reis, já que o desempenho de Laurence Olivier percorria na nossa memória as mesmas peripécias da peça que estávamos a ver. É que, para nós, Laurence Olivier foi o mais genial intérprete de Shakespeare de todos os tempos. Aliás, Sir Laurence foi uma referência tão incontornável que o Presidente Ronald Reagan, depois de assistir â representação do Rei Lear na Casa Branca, tratou o celebérrimo actor britânico por Vossa Majestade e fez-lhe uma respeitosa vénia.
Mas voltando ao Viriato, à medida que o novelo se ia desenrolando e a acção da peça avançava rumo ao seu trágico final, cada vez mais o Hamlet do Ricardo Pais nos ia parecendo mais convincente e não só a peça no seu todo mas também o desempenho do actor principal. E fomos constatando com prazer que o actor João Reis sabia afinal interpretar com mestria e com equilíbrio um papel dificílimo, talvez o papel mais difícil de toda a história do teatro, pois se trata de um personagem com um temperamento instável, umas vezes terno e encantador e outras vezes colérico, cínico e grosseiro.
E assim aquele príncipe da Dinamarca de que gostamos imenso, pois tal como nós é narcisista, cobarde, volúvel, hesitante, emotivo e instável, foi-se tornando cada vez mais credível até ao ponto de nós nos identificarmos completamente com ele. A verdade é que somos muito parecidos com o Hamlet e por isso compreendemos o seu amor por si próprio e pela sua própria imagem, as suas masturbações mentais solitárias, a sua atracção e a sua repulsa pelo corpo prostituído da mãe e o seu desprezo por Ofélia, a bela e burra Ofélia, e pelo pai e pelo irmão dela, que são modelos perfeitos de cortesãos e, portanto, perfeitas nulidades.
E foi desta maneira que numa noite de gala no Teatro Viriato nós curtimos intensamente o Hamlet e o João Reis e acabámos por gostar também do actor. E mesmo o Ricardo Pais, especialista em cosméticas de duvidoso gosto e em embalagens de luxo mais do que em conteúdos com valor intrínseco, neste Hamlet transfigura-se e nem parece o mesmo Ricardo Pais de anteriores encenações. É que nesta mise-en-scène tudo é tão austero e tão rigoroso que a palavra não perde força nem se descaracteriza. Perante tal obra-prima, merecedora dos maiores encómios, até nos apetece dizer, como o Hamlet no fim do Hamlet, que aqui o Ricardo Pais é o Ricardo Pais e o resto é silêncio.

VISEU CAPITAL PORTUGUESA DA CULTURA

COM O HAMLET DO RICARDO PAIS

Não há dúvida que Viseu já não é hoje aquela cidade de burros e de bêbedos e de gente obscurantista e reaccionária que era no tempo do fascismo. Embora haja ainda muita gente em Viseu a beber uns copos a mais e a perfilhar ideologias retrógradas, a verdade é que a cidade evoluiu bastante e podemos hoje muito justamente considerá-la como uma cidade de referência a nível nacional.
A melhor prova do que afirmamos é o facto de que esta cidade foi durante dez dias a capital cultural do nosso país. Com efeito, durante esse relativamente longo espaço de tempo o Teatro Viriato esgotou completamente a lotação da sua sala de espectáculos com uma peça de William Shakespeare, o Hamlet, que nada tem a ver com o teatro comercial mais rentável nem mesmo com um certo teatro de boa qualidade, mas com uma embalagem de encher o olho, pour épater le bourgeois.
Não obstante Shakespeare ser um autor relativamente conhecido, pois as suas melhores peças estão quase todas adaptadas ao cinema e as personagens principais das suas tragédias e comédias são modelos universais de comportamento e de reflexão para a humanidade em geral, a verdade é que a obra deste genial autor dramático não é nada fácil nem parece particularmente estimulante para pessoas de cultura apenas mediana.
A apetência do grande público por este autor ainda se pode compreender em relação a um filme como o Romeu e Julieta, de Baz Luhrmann, pois embora o argumento desta película respeite o texto original, a verdade é que a acção é transportada da Itália coeva para os Estados Unidos da América da era actual e a mise-en-scène é de tal modo exuberante, em termos de cenários, iluminação, guarda-roupa, movimentos de câmara e acompanhamento musical, que este Romeu e Julieta já não é o Romeu e Julieta de Shakespeare, é apenas tão somente o Romeu e Julieta do Leonardo di Caprio e dos boys adolescentes da pátria do Tio Sam.
Mas com o Hamlet do Ricardo Pais nada disso acontece, pois, como já dissemos em artigo anterior, o encenador optou pelo rigor e pela austeridade. Por isso mesmo, há que elogiar a população da nossa cidade pelo entusiasmo com que aderiu a este espectáculo, transformando num rotundo êxito aquilo que se previa ser uma aposta difícil num teatro com um público sem dúvida fiel, mas capaz de aguentar normalmente no máximo três ou quatro representações.
Que os viseenses da actualidade já não têm anquilosados preconceitos morais nem arcaicas teias de aranha no cérebro foi o que se pôde comprovar no anterior espectáculo do Teatro Viriato, o fabuloso Purificados de Sarah Kane (encenação de Nuno Cardoso), com cenas de droga, de violência, de nus integrais masculinos e femininos e de sexo ao vivo em palco, tudo isto à vista de um público culto e adulto que soube apreciar o espectáculo riquíssimo que tinha pela frente.
Promover espectáculos deste género, com grande arrojo formal e moral, devia ser, aliás, uma das tarefas prioritárias da Direcção do Teatro Viriato, afim de habituar o público viseense ao que de mais moderno e de mais provocatório se faz no mundo. É certo que o Paulo Ribeiro tem organizado todos os anos ciclos de espectáculos denominados contradicionais, mas sem grande sucesso, talvez porque não sejam suficientemente arrojados.
De qualquer maneira, o Hamlet foi a prova dos nove da maturidade cultural do povo viseense, podendo desde já dizer-se que há um antes e um depois do Hamlet no Teatro Viriato e na cidade de Viseu. O principal responsável por este importante evento foi sem dúvida o Ricardo Pais, o qual tomou conta do Teatro Viriato durante vários dias, tendo revolucionado completamente a sua estrutura e o seu funcionamento. Se o Paulo Ribeiro tivesse ido para o Ballet da Escócia o seu sucessor não seria difícil de encontrar, estava aqui em Viseu mesmo à mão de semear, seria naturalmente o Ricardo Pais.
O que é preciso é aproveitar a embalagem e procurar dar uma maior consistência à Direcção do Paulo Ribeiro, o que nem deve ser difícil, pois agora existe um governo de coligação com maioria absoluta na Assembleia da República e portanto com todas as condições de governar sem sobressaltos durante quatro anos, como aliás é desejável, pois a estabilidade governativa é muito importante para tirar Portugal do pântano e da cauda da Europa e para promover o desenvolvimento do país. Nesta conformidade, há que exigir do poder central as condições de permanência e de segurança que são absolutamente necessárias para que a actual Direcção do Teatro Viriato possa continuar a sua obra de requalificação cultural dos habitantes de uma das mais belas e das maiores cidades do nosso Portugal.


CINEMA NO TEATRO VIRIATO

Realizou-se no dia 21 de Fevereiro uma sessão de cinema no Teatro Viriato que nos emocionou muito. E pensamos que só a nós essa sessão tocou de uma maneira intensa, pois éramos, assim o julgamos, a única pessoa na sala que tinha assistido a filmes no velhinho edifício que antecedeu a estrutura arquitectónica actual.
E enquanto perpassavam pelo nosso embevecido olhar as imagens do filme com que agora o Teatro Viriato resolveu brindar a população viseense, a nossa memória ia automaticamente à procura de muitas outras imagens com que a nossa fome cinéfila se tinha alimentado noutras eras já muito longínquas no tempo objectivo dos calendários, mas muito próximas, quase passado no presente, no tempo subjectivo das nossas emoções.
E é por tudo isto, por toda esta vivência cinéfila bebida na meninice e na adolescência, que nós, sempre que entramos agora no Teatro Viriato, nos comovemos até às lágrimas. É que começámos a frequentar o Viriato (e também o Teatro Avenida), na companhia da nossa mãe, quando tínhamos apenas uns quatro, cinco anos, pois nessa altura não havia classificação etária, repartindo entre os dois cine-teatros da nossa cidade as idas aos templos profanos da nossa religião sem Deus.
Mas também íamos algumas vezes, acompanhados por colegas da escola ou do liceu, às matinées de Domingo, e nessa eventualidade ocupávamos os antigos camarotes de segunda ordem, que funcionavam como a geral e custavam a módica quantia de dez tostões. Éramos como Les Enfants du Paradis do belíssimo filme do célebre realizador francês Marcel Carné, nessa busca jamais mitigada de um enlevo de imagens que nos fizesse esquecer a cinzenta realidade da nossa juventude, amordaçada pelo salazarismo, e nos mergulhasse na realidade colorida da sétima arte.
E até nos lembramos de que uma vez, quando era projectado no ecrã do velho Viriato um filme histórico passado na antiga Roma, numa sequência em que uma formosa aristocrata desse tempo tomava um banho de imersão em leite de burra, até ouvimos um frequentador desses camarotes altos do teatro gritar alto e bom som que dali se via tudo.
Claro que isso não era verdade, a imagem do cinema não é tridimensional, via-se a mesma coisa da plateia e dos camarotes; e aliás os tempos eram outros, de religião repressiva, de fascismo pacóvio e de censura rigorosa, nem sequer se podia imaginar uma mulher nua dentro de uma banheira, pois era pecado, quanto mais vê-la, vê-la mesmo, isso seria demais.
Todos os momentos mágicos e nostálgicos desse Viriato de outros tempos desfilaram diante de nós, enquanto assistíamos à sessão de cinema, que consideramos histórica, do dia 21 de Fevereiro. E já agora vem a propósito lembrar que a primeira projecção de cinema em Viseu foi feita no Teatro Viriato pelo Senhor Luciano, um homem dinâmico e empreendedor, proprietário de uma cervejaria mesmo em frente ao teatro, que se chamava precisamente, numa sentida homenagem à arte das imagens em movimento, a Cervejaria Cinema.
Por todos estes motivos, teria sido muito interessante que a direcção do Teatro Viriato tivesse convidado, nesse dia de regresso em grande do cinema à sua sala de espectáculos, uma pessoa conhecedora desses esquecidos tempos, para no fim da sessão fazer uma evocação da história deste nobilíssimo espaço, narrando a todos os espectadores presentes um vibrante resumo das peripécias do antigo Viriato.
Ainda por cima, o filme exibido, o Couraçado Potemkine, de Sergei Eisenstein, durante muito tempo considerado, lado a lado com A Quimera do Ouro, de Charlie Chaplin, um dos dois melhores filmes da história do cinema, exigia, dado o seu imenso valor artístico e sua enorme importância cinematográfica e até política, um palestrante à altura das circunstâncias.
Para sublinhar ainda mais a solenidade do evento, a projecção do filme foi acompanhada por música ao vivo, executada (e criada) por dois jovens compositores. Com uma sala quase cheia e com um filme fabuloso e libertador, estavam reunidas todas as condições para que a sessão do dia 21 de Fevereiro tivesse sido uma sessão memorável. Infelizmente, não foi assim.
Pena foi que a música de acompanhamento, demasiado estridente, não tenha estado à altura do filme. Também é de lamentar que o Teatro Viriato tivesse convidado para a palestra depois da sessão um indivíduo sem carisma, sem categoria e sem dotes oratórios, que de cinco em cinco minutos, enquanto divagava em tom pretensioso sobre o filme e sobre o seu autor, gaguejava e espreitava para umas notas, lembrando um aluno mal preparado à procura do copianço.
Este sujeito intelectualmente bastante limitado, apenas versado numa figura de retórica, a sinédoque, até teve o atrevimento de sugerir os perfumes musicais do Clair de Lune, de Claude Debussy, para música de acompanhamento do filme, o que é um enorme disparate. Mas na plateia havia uma pessoa musicalmente ainda mais ignorante do que o palestrante (ou então estava a gozar), que preconizou que se utilizasse a música de Os Marretas para o mesmo efeito. Temos a certeza de que o genial realizador do Couraçado Potemkine se deve ter revolvido no túmulo ao ouvir tais bacoradas.

3/08/2008

COMPANHIA DE DANÇA PAULO RIBEIRO, BALLET E OUTRAS DANÇAS


HOMENAGEM AO BALLET

OS SAPATOS DA BAILARINA

Os sapatos da bailarina são uns sapatos singulares, únicos, especiais..Destinam-se ao mundo do ballet e têm, portanto, um uso específico. Não são uns sapatos neutros, cinzentos, indistintos, banais, vulgares, uns sapatos que a gente usa, estoira, deita fora e compra outros, sem muitas vezes se lembrar da sua forma e da sua cor, depois de os deixar de usar e mesmo às vezes em pleno uso.
À semelhança dos sapatos da bailarina, também as sapatilhasdo atleta de fundo têm um uso específico, o correr, também elas se distinguem por algumas características, tais como o seu piso, o reforço do calcanhar, a maleabilidade do peito do pé, etc. E o mesmo se pode dizer das chuteiras do jogador de futebol e de um maneira geral dos pedibus calcantibus de qualquer desporto. A verdade, porém, é que há uma distância enorme entre os sapatos da bailarina, por um lado, e as sapatilhas dos atletas em geral e as chuteiras dos jogadores de futebol, por outro lado.

O que distingue os sapatos da bailarina dos sapatos em geral é em primeiro lugar a sua leveza. Esta qualidade salta bem à vista se compararmos os sapatos da bailarina com as botas grossas, pesadas, cheias de chulé, de lama e de poeira do campónio, mas já não é tão evidente se o termo de comparação forem por exemplo as sapatilhas do atleta, especialmente do saltador em altura, que devem ser, por motivos óbvios, tão leves como os sapatos da bailarina.

Tal como o atleta que salta em altura, a bailarina eleva-se, mais leve que o ar, nas três dimensões do palco, que não é só as tábuas de madeira, o cenário e a iluminação, mas é principalmente aquilo que não se vê, a estrutura digamos invisível da cena. Mas diferentemente do saltador em altura, a bailarina não pula, voa, isto é, desenha, com os seus movimentos graciosos, a poética coreografia da dança.

Por estas características que se ligam à essência do ballet, já estamos a ver que uma das principais qualidades dos sapatos da bailarina é a leveza. A leveza é evidentemente importante, mas não é a única qualidade importante, pois já vimos que várias actividades também a exigem. E aliás, paradoxalmente, os camponeses dançam com os seus socos toscos e pesados nos ranchos folclóricos de todo o mundo.

Mas a dança dos camponeses, embora importante do ponto de vista etnográfico, não tem nada a ver com a essência da dança tal como a concebemos. A dança tal como a concebemos exige uma vida inteira de treino para, em momentos de grande beleza estética, a bailarina se libertar como um pássaro da adstringência redutora da lei da gravidade.

O calçado da bailarina exprime evidentemente a leveza que eu acabo de referir, mas também exprime a extrema delicadeza que é apanágio dos mais sublimes momentos românticos do ballet clássico.

Apesar de servirem de estilóbato às colunas jónicas que são as pernas da bailarina, os sapatos da bailarina não precisam de ser tectónicos, pois as penas da bailarina, tal como o seu torso, os seus braços e o seu rosto, são um edifício feito de graça e portanto apto a permanecer suspenso

para além de todos os limites e restrições da condição humana.

Pode mesmo dizer-se que os sapatos da bailarina têm a ver com os pés da bailarina na medida em que os pés da bailarina são tão delicados como as aristocráticas mãos das mais belas madonas da arte bizantina e neste sentido deverá concluir-se que os sapatos da bailarina assentam como luvas nos pés da bailarina.

Leveza, delicadeza e também graça são qualidades que se costumam atribuir aos anjos e a algumas mulheres belas. Mas é sobretudo à bailarina, anjo e mulher, que essas qualidades convêm. E daí que também o bailarino não se consiga eximir à conotação feminina que é, no seu imo, uma das principais características do mundo do ballet.

Mundo do ballet que desenha a beleza nos arabescos saltitantes de uma sequência de movimentos, que se abre e se aprofunda mo espaço e no tempo. Mundo do ballet que é o corpo todo da bailarina, mas que na sua mais íntima essência são as pernas e os pés, que por isso mesmo se querem tão espirituais como o rosto e, igualmente como o rosto, espelhos da alma.

E a alma calça-se com leveza e delicadeza com os graciosos sapatos da bailarina. E quando a bailarina morre, como acontece no final do filme Os sapatos Vermelhos, é por lhe descalçarem os sapatos que a alma da bailarina não pode subir ao céu.



O LAGO DOS CISNES

COMPANHIA DE DANÇA

PAULO RIBEIRO

BALLET E OUTRAS DANÇAS

PAULO RIBEIRO


LEONOR KEIL



RUDOLF NUREYEV E MARGOT FONTEYN




NIJINSKY

NIJINSKY

NIJINSKY

NIJINSKY EM L' APRÈS MIDI D'UN FAUNE

NIJINSKY


NIJINSKY


NIJINSKY


ALTOS E BAIXOS DA
COMPANHIA PAULO RIBEIRO

A Companhia Paulo Ribeiro é uma companhia de dança com uma certa notoriedade a nível nacional. De vez em quando até acontece aparecerem notícias sobre espectáculos da companhia em jornais e revistas de âmbito nacional. O Paulo Ribeiro é o director e o coreógrafo da companhia e é ao mesmo tempo o director do Teatro Viriato. Dava-lhe um certo jeito a companhia ter a sua residência em Viseu e a verdade é que o conseguiu, pois a autarquia abriu-lhe as suas portas e arranjou-lhe inclusivamente um local para ensaiar. Temos visto todos os espectáculos de dança que a companhia tem exibido no Teatro Viriato. Gostámos dos primeiros espectáculos que tiveram lugar no teatro municipal. Esses espectáculos tiveram o nível mínimo exigido a uma companhia conhecida e respeitada em todo o país. Foram espectáculos sérios e dignos. Ainda estávamos longe do desnorte que se verificou nos últimos anos.
Nós confessamos, no entanto, que nunca tivemos uma admiração incondicional pela companhia e pelos seus bailarinos.
Com efeito, as nossas preferências em termos de dança nacional vão para o Ballet Gulbenkian e para a Companhia Portuguesa de Bailado. É que essas companhias sempre tiveram bons bailarinos e óptimos coreógrafos. Destes últimos é justo destacar o Jorge Salavisa, que trabalhou para as duas companhias com resultados brilhantes. O Jorge Salavisa é de longe o melhor coreógrafo português e talvez por isso algumas pessoas o tratam desdenhosamente por Jorge Salabicha. Mas o Jorge está muito acima dessa gente medíocre, invejosa e maledicente que infelizmente pulula no nosso país. O Jorge, com efeito, é tão bom e tão competente que nas companhias onde trabalha acontece sempre ballet. Já o mesmo não podemos dizer da companhia do Paulo Ribeiro, pois nela há muito tempo que não acontece ballet.
Mas há sempre uma justificação para todas as situações e mesmo até para esta. O Paulo Ribeiro até pode dizer que a sua companhia exibe dança moderna e contemporânea e que essa dança nada tem a ver com o ballet. Claro que a Companhia Paulo Ribeiro não tem nada a ver com o ballet clássico e com o ballet romântico e também tem muito pouco a ver com a dança do extinto Ballet Gulbenkian. Mas o ballet moderno não tem forçosamente de ser um anti-ballet ou o grau zero do ballet ou, ainda pior, uma mistela que não é ballet nem teatro nem é nada. Ainda recentemente tivemos a prova de tudo isto que aqui afirmamos.
Estamos agora a referir-nos à companhia de dança da Olga Roriz e ao seu bailado Paraíso. O espectáculo desta companhia a que assistirmos no Teatro Viriato é uma vibrante e sentida homenagem ao musical norte-americano que se faz nos teatros da Broadway, em Nova Iorque. Os bailarinos cantaram, dançaram e interpretaram cenas faladas. O espectáculo incluiu composições de Gershwin, Nino Rota e Bernstein, assim como canções de Dean Martin, Frank Sinatra, Edith Piaf e Carmen Miranda. No final, a numerosa assistência que enchia a sala do teatro municipal aplaudiu demoradamente e de pé o fabuloso espectáculo de bailado da Olga Roriz. O espectáculo é obviamente um espectáculo de dança contemporânea. No entanto existe ballet no Paraíso da Olga Roriz. Mas afinal porque é que existe ballet no espectáculo da companhia de dança da Olga Roriz e não existe ballet na maioria dos espectáculos da companhia de dança do Paulo Ribeiro? Afinal, o que é o ballet? Já respondemos a esta pergunta várias vezes, mas vamos fazê-lo uma vez mais. Para nós o ballet é energia, elegância, graça, pose e atitude, no ballet o homem liberta-se dos constrangimentos e das limitações do corpo e da lei da gravidade e é ave e é anjo e projecta-se no ar e dá saltos acrobáticos e faz coisas incríveis do ponto de vista físico, que deitam por terra a teoria generalizada de que os bailarinos são seres efeminados.
O ballet é tudo isto e também é a superação da chateza do quotidiano e da forçada e inevitável convivência com as pessoas feias, cinzentas e desinteressantes que nos rodeiam, o ballet é a figura em mármore ou em bronze da Grécia antiga em movimento, o ballet é o efebo de Maratona a dançar sobre as salsas e serenas ondas do mar, o ballet é a Vénus de Milo a bailar nos primaveris e floridos canteiros dos jardins suspensos da Babilónia.
No ballet nem sequer há gente gorda, feia e mal feita, e muito menos gente quarentona ou gente velha, no ballet há apenas gente muito bela e também muito nova, com a conhecida excepção do genial bailarino Rudolf Nureyev, que foi belo e novo até morrer, e por isso dançou até ao seu último suspiro, homem mais belo e bailarino mais etéreo nunca existiram nem jamais existirão neste mundo. Com efeito, Rudolf Nureyev foi cem por cento bailarino. Bastava vê-lo na rua a passear para chegarmos a essa conclusão.
Pelo contrário, aos bailarinos da Companhia Paulo Ribeiro basta vê-los a actuarem em palco para se chegar à conclusão de que não são bailarinos, com a possível excepção da Leonor Keil, que ultimamente nos tem desiludido mas que já vimos com bons desempenhos em alguns espectáculos. Mas esses espectáculos já foram apresentados há muito tempo e a Leonor Keil encontra-se actualmente na curva descendente da sua carreira. E a Companhia Paulo Ribeiro, com Silicone Não e com Medeia, caminha perigosamente para o grau zero do ballet ou mesmo para o anti-ballet. O ballet nada tem a ver com esses e com outros espectáculos da Companhia Paulo Ribeiro. O ballet é outra coisa completamente diferente. O ballet é a melodia do corpo em movimento. Dançado pelos melhores bailarinos, o ballet até pode ser uma arte divina. Os melhores bailarinos de todos os tempos foram Vaslav Nijinsky (nascido em 1888) e Rudolf Nureyev (1938-1993). Deste último já falámos anteriormente. E falámos com conhecimento de causa, pois temos um DVD com o ballet O Lago dos Cisnes, em que ele e Margot Fonteyn são os principais bailarinos. A companhia de dança é o Royal Ballet, de Londres, onde ambos estavam integrados. Embora originário da Rússia, então União Soviética, Nureyev fez a maior parte da sua carreira na Inglaterra, no Royal Ballet. Para o efeito, aproveitou uma digressão pela Europa para pedir asilo político. A sua actuação em O Lago dos Cisnes é apenas um dos inúmeros desempenhos de Nureyev, que interpretou mais de cem personagens diferentes e revolucionou, com a sua enorme personalidade todo o mundo da dança.
Vaslav Nijinsky, que viveu alguns anos antes de Nureyev, também era russo. Actuou durante algum tempo no ballet do Teatro Marinsky, em S. Petersburgo, mas aí protagonizou um enorme escândalo, pois dançou o bailado Giselle num espectáculo com a família imperial presente, sem os calções a cobrir-lhe o leotard. Convém esclarecer os leitores menos versados no vocabulário específico do ballet que o leotard é a malha justa usada pelos bailarinos. E convém esclarecer também que essa malha é tão justa que deixa bem visíveis os contornos do sexo dos bailarinos. E daí a necessidade de utilizar os calções. Mas Nijinsky actuou sem calções e em consequência disso foi expulso do ballet do Teatro Marinsky. Parece que Diaghilev esteve por detrás deste escândalo, pois queria o bailarino nos seus ballets russos. Sergei Diaghilev era o director dos ballets russos e propunha-se dar umas valentes sacudidelas no mundo estagnado da dança. Nijinsky fez a maior parte da sua carreira de bailarino nos ballets russos. Diaghilev, que entretanto se apaixonou por Nijinsky, foi seu amante e seu tutor. Ao contrário de Nijinsky, que era um ser muito frágil fora do palco, Diaghilev tinha uma personalidade muito forte. Mas Diaghilev também tinha os seus pontos fracos: tinha medo de andar em navios e tinha medo do mar, por exemplo. E assim, numa digressão pela América em que Diaghilev não foi por causa dos seus medos Nijinsky casou-se com uma colega bailarina. Louco de ciúmes, Diaghilev expulsou-o dos ballets russos. Afastado do mundo do ballet e sem a protecção de Diaghilev, Nijinsky acabou por enlouquecer, tendo passados os últimos dias da sua vida num hospital psiquiátrico.
E assim terminou, longe do mundo do ballet, a vida do fabuloso bailarino Nijinsky, que no L’ Après Midi d’ un Faune, de Claude Debussi, atingiu o mais alto cume da nobre arte da dança. Neste sensacional bailado, genialmente interpretado e coreografado por Nijinsky, os bailarinos actuavam de perfil e não de frente para os espectadores. Quanto a Nijinsky, a sensualidade transbordava do fauno por ele interpretado. Ora essa sensualidade era afrontosa para os padrões da época. Mas o maior escândalo aconteceu no final do bailado, com o bailarino simulando masturbar-se em pleno palco. Nijinsky era realmente um génio da dança com a alma de um fauno. De Nijinsky se pode dizer que para ele dançar era acompanhar a música interior que torna divino o meramente humano, era ser ao mesmo tempo deus e demónio pela sublimidade do movimento.


UM ESPECTÁCULO DE BALLET SEM BALLET
SILICONE NÃO


Silicone Não foi anunciado como um espectáculo de ballet da Companhia Paulo Ribeiro, mas nós não vimos ballet nenhum e fomos duas vezes ao Teatro Viriato ver o dito espectáculo de ballet. Francamente, pensamos que não se deve anunciar um espectáculo de ballet e depois apresentar em cena uns bailarinos que passam todo o tempo do espectáculo ou a fazerem habilidades circenses ou a atirarem-se para o chão ou a sacudirem-se de uma maneira contínua, como se tivessem chatos e piolhos a morderem-lhes o corpo todo.
O ballet é outra coisa, o ballet é energia, elegância, graça, pose e atitude, no ballet o homem liberta-se dos constrangimentos e das limitações do corpo e da lei da gravidade e é ave e é anjo e projecta-se no ar e dá saltos acrobáticos e faz coisas incríveis do ponto de vista físico, que deitam por terra a teoria generalizada de que os bailarinos são seres efeminados.
O ballet é tudo isto e também é a superação da chateza do quotidiano e da forçada e inevitável convivência com as pessoas feias, cinzentas e desinteressantes que nos rodeiam, o ballet é a figura em mármore ou em bronze da Grécia antiga em movimento, o ballet é o efebo de Maratona a dançar sobre as salsas e serenas ondas do mar, o ballet é a Vénus de Milo a bailar nos primaveris e floridos canteiros dos jardins suspensos da Babilónia.
No ballet nem sequer há gente gorda, feia e mal feita, e muito menos gente trintona ou gente velha, silicone não, no ballet há apenas gente muito bela e também muito nova, com a conhecida excepção do genial bailarino Rudolf Nureyev, que foi belo e novo até morrer, e por isso dançou até ao seu último suspiro, homem mais belo e bailarino mais etéreo nunca existiram nem jamais existirão neste mundo.
Com efeito, Rudolf Nureyev foi cem por cento bailarino. Bastava vê-lo na rua a passear para chegarmos a essa conclusão. Pelo contrário, aos intérpretes do Silicone não, basta vê-los a actuarem em palco para se chegar à conclusão de que não são bailarinos, com a possível excepção da Leonor Keil, que já temos visto em outros espectáculos, com bons desempenhos. O ballet não tem portanto nada a ver com o Silicone Não. Pessoas a sacudirem-se, a espreguiçarem-se, a vergastarem-se, a crucificarem-se e a atirarem-se para o chão, isso não é ballet.
E depois há ainda a acrescentar que o ballet, mesmo aquele que descreve uma história, o que nem sequer é o caso, não precisa de texto nenhum para nada. Ou os espectadores já sabem a história ou então lêem-na no programa e decoram-na antes do espectáculo começar. Tudo isto pode efectivamente acontecer no ballet clássico e romântico, pode acontecer, por exemplo, no melhor ballet de todos os tempos, O Lago dos Cisnes, mas nunca nenhum coreógrafo teve a ousadia de sobrepor um texto com palavras explicativas à fabulosa música do divino Tchaikovsky, o que não seria aliás só ousadia, seria também ignorância, petulância, estupidez e, além do mais, constituiria um crime.
Ora foi precisamente o que aconteceu com o pseudo-ballet Silicone Não. Com efeito, durante todo o espectáculo, juntamente com a banda sonora musical, os espectadores tiveram que gramar um texto longo, arrastado, interminável, que nada aliás acrescentava ao que se passava no palco, pois é efectivamente um texto oco e pedante, em que não sabemos que mais lamentar, se a anedota parva da claustrofóbica e do romeno, se a canção que serve de estribilho e dá o título ao espectáculo e que aliás o autor diz muito justamente que não é uma canção. E nós concordamos. É apenas um amontoado de palavras.
Palavras, palavras, palavras, ainda por cima palavras sem sentido, do conhecido homem de letras (e de palavras) Jacinto Lucas Pires. Palavras, palavras, palavras, próprias da elaborada e complicada inteligência de um menino de boas famílias, filho de um político de alto gabarito, um homem de direita com ideias federalistas em relação à União Europeia. Palavras, palavras, palavras, ainda por cima pretensiosas e tolas, de um menino mimado, longínquo descendente do grande Almeida Garrett.
Palavras, palavras, palavras, de um certo esquerdismo intelectualmente atrevido de uma mente pseudo-brilhante nascida num berço de ouro. Palavras, palavras, palavras, para quê palavras, quando no palco se dança e é importante que a atenção dos espectadores se concentre na dança. Acontece até que a maioria das pessoas não ligava nada às palavras e quanto ao que se passava em cena às vezes até dava vontade de rir.
Eis que sobreposta à cortina do palco aparece a imagem de um homem enorme completamente nu e alguns espectadores soltam uns risos abafados. E depois aparece a imagem de outro homem enorme completamente nu e mais adiante aparecem as imagens de muitos outros homens completamente nus. Aparecem tantos homens nus que até nos fazem duvidar da orientação sexual de quem os lá pôs.
Perante tal fartura de homens nus, umas jovens espectadoras que estavam ao nosso lado fartaram-se de rir e foi por pouco que a nós não nos deu também um ataque de riso, o que é inédito em ballet, pois o ballet é uma coisa séria e o riso é mais próprio das tascas, das classes baixas e das comédias de costumes. Por favor, não nos lixem. Isto não é ballet. O ballet é outra coisa, muito superior ao jogo de movimentos rasteiro e rasca e ao jogo de palavras idiota e retórico que é o Silicone Não.

A COMPANHIA PAULO RIBEIRO COM MEDEIA
NUMA PÉSSIMA RENTRÉE NO TEATRO VIRIATO

A rentrée no Teatro Viriato teve lugar no passado dia 21 de Setembro com a peça de teatro Medeia. O programa do espectáculo informou-nos que a peça exibida é uma produção da Companhia Paulo Ribeiro e da Companhia Chapitô. O programa do espectáculo informou-nos também que se trata de uma criação colectiva, com encenação de John Mowat.
A Medeia é uma peça de teatro de Eurípedes, que foi um famoso autor grego de tragédias. Foi mesmo um dos três tragediógrafos gregos mais importantes. Os outros foram Ésquilo e Sófocles. A estes três geniais autores de tragédias há que acrescentar o nome de Aristófanes, que é o autor teatral grego mais importante no que se refere à comédia clássica.
A Medeia é portanto uma tragédia e não uma comédia. No entanto, o espectáculo a que assistimos no Teatro Viriato com o nome de Medeia é na realidade uma comédia. Há algo, portanto, que não bate certo nesta história de uma tragédia que de repente aparece metamorfoseada em comédia. E o que é mais grave é que toda esta transformação parece ter sido feita deliberadamente, sem qualquer respeito por Eurípedes e pelo teatro grego.
Trata-se evidentemente de um crime doloso, como se diz em terminologia de direito criminal, com graves responsabilidades dos criadores colectivos, do encenador e das companhias produtoras. Realmente, não lembraria ao diabo transformar uma tragédia grega clássica numa comédia.
E para piorar as coisas, a versão de Medeia que o Teatro Viriato exibiu nem sequer é uma comédia no sentido nobre do termo. É uma reles comédia rasca, que convida ao riso sardónico e idiota. Podemos mesmo dizer que a Medeia que vimos no Teatro Viriato tem mais a ver com o lixo cómico televisivo do que com o teatro cómico de alto nível, que usa as situações cómicas com um mínimo de dignidade.
Ainda por cima, a Medeia da Companhia Paulo Ribeiro e da Companhia Chapitô é uma mistura de bailado e de teatro falado, em que os quatro bailarinos em cena são também intérpretes de diálogos falados e até de diálogos com vozes de animais. Ora a verdade é que um bailarino pode ser muito bom a dançar e ser péssimo a falar ou a ladrar ou a imitar as vozes de outros animais.
É precisamente o que acontece com a Leonor Keil, que é uma excelente bailarina e que é talvez uma das melhores bailarinas portuguesas da actualidade. E nós dizemos isto com conhecimento de causa, pois temos assistido a quase todos os espectáculos da Leonor. É realmente uma bailarina divina, deslumbrante, absolutamente fabulosa.
Ora a verdade é que na Medeia a Leonor Keil tem a pior prestação que lhe vimos fazer até hoje, pois como intérprete das partes pseudo-cómicas não tem nível nenhum e nem nas partes dançadas consegue sair da mediocridade, isto é, nem como bailarina se safa. Aliás com os outros intervenientes passa-se exactamente o mesmo. Todos estão abaixo de cão e alguns até ladram.
Já dissemos que Eurípedes foi um autor trágico e não um autor cómico. Convém já agora acrescentar que a tragédia grega apareceu na Grécia antiga em homenagem ao deus Dionisio e que tinha uma função eminentemente educativa. A sua finalidade principal era a catarse, mas também tinha a função de ensinar as pessoas a alcançar o seu metrón, isto é, a sua medida ideal, evitando assim penderem para cada um dos extremos da sua personalidade.
Quanto aos três principais tragediógrafos gregos, não viveram todos na mesma época e tiveram preocupações diferentes. Ésquilo tratou fundamentalmente de Zeus e dos restantes deuses do Olimpo. Sófocles preocupou-se principalmente com a vida dos homens, com a democracia e com a oposição entre a lei humana e a lei divina.
E Eurípedes, que Aristóteles considerava o maior dos trágicos, dedicou-se sobretudo ao estudo das emoções da alma, principalmente da alma das mulheres. No universo teatral de Eurípedes, a mulher podia fazer grandes coisas quando apaixonada ou tomada de ódio.
Infelizmente, uma das mais importantes e emblemáticas peças que Eurípedes escreveu, a Medeia, foi assassinada no Teatro Viriato nos dias 21, 22 e 23 de Setembro de 2006. Esperemos que o crime não se repita noutras salas de teatro ou que pelo menos a Companhia Paulo Ribeiro e a Companhia Chapitô, responsáveis pela produção do espectáculo, mudem o título da peça. É que é da máxima conveniência evitar que o teatro grego e Eurípedes apareçam associados a uma encenação da Medeia que é uma autêntica anedota.

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